Dr. Euclides Dall’Oglio Júnior e o Bioquímico Fábio Dallanora falam das principais características apresentadas pelos pacientes que aram pelo vírus.
É consenso geral que ainda não é possível afirmar que a Pandemia do Coronavírus já chegou ao fim. Após dois anos e meio, o vírus continua presente no mundo, contamina pessoas de forma sazonal e desencadeia reações diversas no organismo dos pacientes. Enquanto alguns contaminados nem sequer apresentam sintomas, outros, além de manifestar complicações na saúde, podem apresentar quadros mais delicados e consequentemente correr o risco de morte.
Diante deste cenário, a Reportagem do Jornal O Celeiro, entrevistou dois profissionais da saúde que estiveram na linha de frente no combate e no atendimento de pacientes que contraíram o Coronavírus: o médico Euclides Dall’Oglio Júnior e o Bioquímico Fábio Dallanora. Ambos fizeram parte do Comitê Covid-19 em Campos Novos e auxiliaram, desde o início da pandemia, inúmeros casos de pacientes que positivaram para a doença, bem como, acompanharam o quadro clínico destas pessoas pós exposição ao Covid-19.

Farmacêutico e Bioqúimico
“A linha de frente foi uma situação inerente a todo o nosso trabalho, amos a vida trabalhando com isso e não teríamos como virar as costas nesta situação que enfrentamos de uma forma muito pesada. Presenciamos muitos casos de pacientes que tinham tudo para piorar e aram super bem pelo Covid e, pacientes aparentemente saudáveis, sem comorbidades, que complicaram muito, isso foi uma observação geral dos profissionais da saúde independente das suas especialidades”, afirmou Dallanora.
Sem entrar no mérito da questão sobre a relação entre as comorbidades e o Pós-Covid, o Bioquímico relata a experiência obtida em pacientes atendidos que tiveram exposição ao vírus. Segundo ele, existiram casos de pessoas que aram pela doença, vacinaram, contraíram novamente o Covid-19 de uma forma mais branda, outros de forma mais acentuada e desenvolveram alguns tipos de sequelas.
“Existe uma carência de publicação científica em relação à esta possibilidade de associação de algumas comorbidades físicas em relação ao Covid. Mas o que observamos em algumas pessoas são lapsos de memória, esquecimento, dificuldade de raciocínio rápido, além de outras comorbidades, talvez relacionadas a problemas cardíacos e outros problemas motores. Notamos um certo aumento, mas não podemos atribuir diretamente ao Covid, justamente pela carência de publicações científicas”, comentou.
Fábio Dallanora, entretanto, atribui o avanço em termos de pesquisas para o desenvolvimento em tempo recorde da vacina, como um fator positivo em decorrência da pandemia. Conforme o profissional, isso fez com que os pesquisadores se voltassem com grande preocupação em se conter o avanço de toda a disseminação viral. “Infelizmente tivemos muitos óbitos e todos nós sentimos pelo que aconteceu, tem uma situação financeira por trás do período pandêmico, porém, ressalto o legado que a pandemia vai deixar, quanto emprego foi gerado na área científica, quantos profissionais da saúde aderiram ao mercado de trabalho, quanto foi investido na infraestrutura da saúde pública e quanto isso contribuiu para uma melhora de uma forma geral para a população”, concluiu.

Apesar de poucos estudos científicos publicados até o momento, Dr. Euclides Dall’Oglio buscou se aprofundar no assunto por meio de cursos, estudos e artigos publicados no exterior. Além da experiência empírica, vivenciada no hospital e no Centro de Triagem Covid-19, Dr. Euclides se especializou num Curso de formação em Pós-Covid, com o renomado Dr. Guili Pech, cardiologista de São Paulo. Através do curso foi possível se atualizar sobre o tratamento e manejo da Síndrome Pós-Covid, com aulas que abordavam explicações didáticas, profundas e baseadas nas melhores e mais atuais evidências científicas sobre o tema.
Antes de responder as questões relacionadas ao Pós-Covid, no entanto, para entender a trajetória da doença, Dr. Euclides fez questão de relembrar as quatro principais fases do vírus, partindo da origem até chegar à variante mais recente.
“Costumo dizer que nós tivemos as quatro principais variantes. O vírus original de Wuhan, logo depois a P1, também conhecida como Variante da Amazônia, infelizmente a mais grave que amos em termos de mortes, complicações pós Covid e onde tivemos carência de leitos de UTI em Santa Catarina; terminando a P1 iniciou o período de contaminação Delta, foi quando iniciou o processo de vacinação e neste mesmo período boa parte da população acabou entrando em contato com o vírus, o que contribuiu para a diminuição no número de casos, pois hoje estudos comprovam que a imunidade natural é superior a qualquer imunizante, como a vacina; e por último, surgiu no final do ano ado a Ômicron, uma variante muito forte no potencial de infecção, mas com o potencial de fatalidade cada vez menor”, explicou Dr. Euclides.
- Quais são os sintomas mais comuns do Pós-Covid?
O que eu percebi nesta fase com os casos de Covid praticamente zerando, é a procura pelo consultório médico e pelas unidades de saúde de pacientes mais arrastados. Me chama a atenção, pacientes jovens, de 30 a 40 anos, trabalhador rural, pessoas fortes, que dizem que depois de pegar o Covid não são mais os mesmos, é a frase que eu mais escutei. O que eu tenho visto são muitas pessoas que entraram em contato com o vírus, há 6 ou 9 meses, ainda apresentando sintomas.
Os pacientes acometidos pela variante P1, percentualmente foram os que apresentaram mais problemas de saúde após serem infectados. Pacientes que foram internados nesta fase do Covid, chegaram até a intubação e sobreviveram, aram por um período de até 8 meses apresentando uma fraqueza importante, dores no corpo, uma dispneia (falta de ar e respiração curta) e até perda de memória.
- O vírus atacou apenas o sistema Pulmonar?
Na infecção aguda, quando o paciente estava positivo, o maior comprometimento era o pulmonar, mas hoje temos uma explicação melhor, que um dos principais responsáveis por essa inflamação que normalmente acometia o pulmão, é a proteína Spike, a maior causadora de todo mal que estamos vendo, seja em grau maior ou menor. Essa proteína Spike está presente no vírus e em algumas vacinas, principalmente nas RNAs Mensageiras (Pfizer e Moderna), e graças a Deus aqueles problemas graves que relacionam ao Pós-Covid e Pós Vacina, como infartos e AVCs, são muito baixos. Mesmo assim é preciso ter cuidado, procurar tratamento médico, pois essa proteína presente no vírus tem aumentado os casos de infartos e AVCs, além de atingir o sistema renal, cardíaco e neurológico.
- Como fica a imunidade Pós-Covid?
Boa parte da equipe médica que está investigando o Pós-Covid elege a proteína Spike como a grande vilã dos pacientes. Ela por ser uma proteína que circula no organismo, tem causado o que chamamos na medicina de Endotelite, uma inflamação do endotélio, a membrana dos vasos sanguíneos, que quando inflamado pode perder função, sendo que uma das funções do endotélio é justamente a imunidade. A partir do momento que você faz uma endotelite, mesmo no grau leve, você está comprometendo a imunidade, ficando mais vulnerável.
- Nos casos mais leves, qual é a orientação?
Estes sintomas inespecíficos como tontura, dor de cabeça, fraqueza, amnésia, respiração curta e o próprio cansaço, a recomendação é fazer uma avaliação médica. Por meio de um exame físico, uma boa conversa, que são nestes sintomas que o médico pode ligar o sinal de alerta para uma exposição ao vírus ou à uma dose de reforço da vacina. Ainda não temos no Brasil um exame que confirme o diagnóstico de Pós-Covid, mas nestes exames laboratoriais podemos identificar algumas alterações que são muito sugestivas, a partir daí, podemos dar início a um tratamento, um acompanhamento médico que tem duração média de 6 a 12 semanas e uma resposta de 90% de eficácia.
Já em casos de pacientes assintomáticos pós exposição, precisam apenas monitorar e realizar periodicamente os exames de rotina.
Recomendações finais
A mensagem mais importante que eu deixo, é que após a exposição ao vírus, e ao início de sintomas, procure um médico. Já têm estudos falando que até 60% das pessoas que entraram em contato com o vírus, vão adquirir uma síndrome Pós-Covid, em graus maiores ou menores. É importante informar, que estudos norte-americanos mostram que a Proteína Spike estava presente na corrente sanguínea de pacientes após 18 meses de exposição ao vírus, causando uma cascata inflamatória, por isso a importância da avaliação médica e a realização destes exames. Também recomendo uma boa suplementação vitamínica, uma nutrição anti-inflamatória, algo que uma Nutricionista vai conseguir prescrever com maior autoridade.
*Reportagem publicado no Jornal O Celeiro, Edição 1746 de 15 de setembro de 2022.